terça-feira, março 29, 2005

Sem coragem para mais

Há quem diga que é quando o sorriso esmurece e a alma se deprime, que se escreve melhor, que o sentimento deixa-se transparecer para o papel de uma forma mais clara e objectiva.
Talvez, porque hoje me sinta assim, talvez porque ontem o suspiro me fez chorar, talvez porque às vezes caia na realidade da minha vida e não consiga encarar os problemas de frente e me esconda num canto qualquer com a esperança de não ser encontrada, porque às vezes não consigo transformar a dor num sorriso, porque tenho pena de não me aguentar, sempre, com aquela armadura de mãe guerreira que nada lhe afecta e consegue, sempre, dar a volta por cima sem desabar, por ser cobarde ao ponto de me refugiar sempre na mesma dor e não ter coragem (ou ter medo) de pensar que há mais assuntos que me atormentam sem ser o assunto do que os olhos do meu menino não vêem, apetece-me mais que nunca escrever e... chorar, sobretudo chorar...

Ontem, aproveitei a cunha da memória amarga do dia 10 de Fevereiro de 2000, para me refugiar e chorar à vontade. É nisto que me acho cobarde, porque ponho sempre as culpas num sofrimento permanente, mas suave, que encobre tudo o resto... tanto que nem coragem tenho para falar no resto.


" 7 de Fevereiro de 2000 - Segunda-feira

Tenho 17 anos e uma bagagem que não inveja ninguém.
Descobriram qualquer coisinha nos olhinhos do meu menino, mas nada que uns óculos, mais tarde, não resolvam, segundo a médica que o acompanha.
Amanhã vamos ao Hospital de S. José, nada de complicado, mas é melhor fazer já o que há para fazer, não vá alguma coisa correr mal.


8 de Fevereiro de 2000 - Terça-feira

Pouco passa das 8 da manhã e já fiz cerca de 90 km para chegar até aqui. Estou no Metro da Cidade Universitária. Transformou-se, de repente, num mundo estranho, esta minha vida e aqui estou eu, para mais um dia igual a tantos outros. O de hoje, talvez não seja tão igual, vamos até S. José, para o meu pequenino ser visto por um outro oftalmologista, mas não estou nada preocupada, pelo menos foi isso que me foi transmitido, está tudo bem é só uma medida de precaução.
Estamos na ambulância. Eu, tu na tua enorme casinha envidraçada e uma enfermeira.
Toda a gente repara em nós, aliás em ti, por seres um bebé lindo, tão pequenino e por seres parecido com o caracol, por andares com a tua casinha atrás... Sinto-me orgulhosa!
Entramos numa sala pequenina, onde o médico te observou em silêncio.
Estava tão longe do problema que se avizinhava, que mais descontraida, não podia estar.
Mas depressa a confiança passou e o medo inexperiente começou a palpitar, com o bater do coração. Afinal havia qualquer coisa de grave e tinha de ser operado já.
Foi o caos. Mas afinal o que é que se passa?


10 de Fevereiro de 2000 - Quinta-feira

Hoje, não posso ir com o pequenino na ambulância. Voltou aos cuidados intensivos, pois teve que levar anestesia e lá voltou para o seu amigo ventilador. Hoje vai no I.N.E.M. e não há lugar para a mãe.
Apanho um taxi e vou atrás.
Faço-me de forte, enquanto espero na sala de espera. Olho para uma Santinha, que nem sei o nome, mas rezo baixinho.

Esperava que aquela operação levasse o tempo suficiente para tratar que nos atormentava, mas nem vinte minutos levou.
O médico chamou-me. Entrei e foi quando me disse que o caso não era para ele. Apenas mexeu num olho e que no outro, pouco havia a fazer. O melhor, era passar a ser seguido nos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Bem... mas o que é que se passa nesta minha cabeça? Neste meu coração?
Estou completamente desesperada, não sei para onde ir. Não consigo pensar, não me deixam vê-lo... Quero chorar mas faço um esforço tremendo para não o fazer.
O que é que se passa? O que é que se passa? O que é que se passa?
Só quero ouvir uma palavra amiga, que me diga que não se passa nada. Na minha cabeça há milhares de perguntas, que recuso simplesmente a fazê-las, porque não quero ouvir a resposta.
Apanho outro taxi, que me leva de novo para o nosso covil, para Santa Maria.
Chegaste primeiro que eu.
Olho-te pelo vidro da porta. Nem coragem tenho para entrar de novo, naquela sala horrorosa, cheia de monitores onde se lêem os batimentos cardíacos e respiratórios. Aqueles alarmes parecem gritos de dor de todos os bebés que ali estão. Estás de novo ligado ao ventilador, o efeito da anestesia ainda não passou. Estás tão indefeso. Essas vendas que tens nos olhos tapam-te o rosto de anjo. Só quero desaparecer. Adormecer e acordar amanhã de manhã e ter um dia normal, onde nada disto se passou, nem se passará.
De lágrimas em fio, encosto a testa ao vidro e limito-me a olhar-te em silêncio.
Há alguém que me vê, a enfermeira chefe. Dirige-se a mim e em forma de consolo diz-me para não ficar assim, que afinal ainda havia esperança para um olho.
O quê? Mas o quê que esta bruxa me está para aqui a dizer? Ela está a dizer que o meu filho está cego de um olho? Que só vai ver de um olho?
Mas afinal, não era nada de grave, nada que uns óculos não resolvessem e agora dizem-me isto?

Tantas perguntas de revolta numa cabeça de menina, que fazia e dava o seu melhor.
Foi duro; ai se foi...
Acho que foi aí que me comecei a aperceber da gravidade da situação.
Durante a recuperação da anestesia, teve algumas paragens respiratórias, que eram tipo facadas que me davam na alma, mas conseguiu superar.


E foi mais ou menos assim que soube que o meu pequenino era cego.
Davam-me esperança para o olho esquerdo, mas no fundo, acho que eram esperanças de papel de seda cor de rosa, para vestir as bonecas que cedo deixei. Talvez fosse feito o melhor por ele, quero pensar assim, para não custar tanto, mas se o que se passou a 10 de Fevereiro de 2000, se passasse a 10 de Dezembro de 1999... talvez...
E hoje, quando penso nas palavras daquela senhora maravilhosa que me veio dar colo na altura que mais precisava e a quem chamei nomes feios, em silêncio... quando penso... quem me dera que ela tivesse razão, na altura em que aquela frase de espinhos se ouviu... quem me dera que ele visse de um olho."

E ontem, aproveitei esta boleia para chorar à vontade...

Perfeição? Não, muito pelo contrário.

"Há noites em que tudo é perfeito e através de um suspiro ainda se torna tudo muito mais perfeito. Tal como há noites em que o perfeito é transformado em tudo menos perfeito e os limites falam mais alto, gritando aos ouvidos de quem ama, que até o próprio amor tem de ter limites, para se amar na perfeição...

Tenho medo de não saber controlar esta coisa que mora dentro de mim e, de culpar sem culpa...

Gostava de ser quase perfeita, mas estou muito longe de o ser, ou de tão pouco, tentar sê-lo."

quarta-feira, março 23, 2005

In America... In I.P.O.

In America... Foi dos últimos filmes que vi e, adorei-o, simplesmente.
Talvez por ser das pessoas mais lamechas que existe à face da terra, envolvi-me no filme de tal maneira, que este acabou e eu... chorava, chorava, chorava e cada vez mais, tinha vontade de chorar.
Acho, que foi baseado numa história verídica(se não foi literalmente, pelo menos é uma história que, infelizmente, acontece todos os dias) e acho também, que foi esse o motivo que me levou a ficar naquele estado.
Trata-se de uma familia que vai morar para New York: o pai, a mãe e as duas filhas. Uma familia que deixou para trás um filho; porque este tinha leucemia... e morreu.
É sem dúvida uma história de coragem, de sorrisos aparentemente confiantes e felizes, mas que têm um sabor a tristeza e a uma mágoa que teima em ficar. Lutam (os pais) pelo bem estar das filhas, fingindo que nada se passou, "ignorando" a morte do filho, porque simplesmente não a conseguem encarar (o pai, principalmente).
Apesar de tudo, tem um final feliz, mas muito comovente.

Não falei neste filme à toa. Acho que foi um princípio, para me manifestar, para demonstrar o que sinto, quando azares destes batem à porta... à porta de crianças indefesas, que apenas têm a obrigação de serem felizes, muito felizes.

Falo para um colega de trabalho, cujo filho tem um tumor.
Como todos, sensibilizei-me bastante, quando soube. Sei que é um Pai daqueles com letra maiúscula e que cumpre os mandamentos e também por isso, sei que vai tudo correr bem.
O que nos bate à porta, não podemos pôr na porta de outrém, mas se encararmos a situação, se não lhe voltarmos costas e lutar contra ela, corremos o risco de a vencer, não é? Se desistirmos e fecharmos os olhos, para ver se tudo passa... não passa. Eu sei que não. Adia-se o sofrimento e custa muito mais, no fim.
Portanto amigo, agarra esse amor que tens dentro de ti e transforma-o numa arma, para defenderes o teu filhote e acredita que destruirá praticamente tudo, que o faça sofrer. Que a palavra desistir desapareça por completo do teu extenso dicionário e sorri sempre para ele, seja em que altura for.
Sei que não é necessário estar para aqui a escrever isto, mas se por acaso servir para alguma coisa, já me gratifico por tal.
Sei que vai tudo correr bem. Talvez isto seja algo para pensares no quão a vida é maravilhosa e os pequenos momentos são realmente muito importantes, para nos passarem ao lado. Foi com sustos mais ou menos assim, que aprendi a dar o devido valor à vida.
Vai tudo correr bem, vais ver. Ama-o e mima-o o mais que puderes e transmite-lhe confiança, porque apesar do serviço técnico ser imprescindível, o serviço do coração não é menos importante.
Boa Sorte!

segunda-feira, março 21, 2005

Simplesmente, Sofia

Porque há pessoas simplesmente espectaculares, não posso deixar passar ao lado, o telefonema que recebi no Sábado.
Chama-se Sofia e é Educadora de Infância no Centro Helen Keller. Curiosamente, não é a Educadora do meu pequenimo, mas como há um relacionamento fenomenal entre todos; todos se conhecem e todos se dão bem.

Cruzei-me e falei com ela poucas vezes, mas sei que foram as suficientes para se iniciar algo de especial.
Foi ela também, que na Festa de Carnaval da escola (numa das provas) ajudou o Piolhinho a encher um alguidar de areia e "obrigou" o "Pai" a fazer o respectivo percurso com o mesmo alguidar na cabeça :)

No Sábado, quando a ouvi ao telefone, estava a léguas do assunto que a levou a ligar, para a Educadora do meu filhote a querer o meu número, urgentemente.
Começou por me agradecer, ao qual lhe perguntei o motivo. Foi quando começou com um discurso lindo e emocionante, que me deixou com as lágrimas nos olhos. Ligou-me, simplesmente, para me agradecer por ter o blog que tenho, por escrever o que escrevo, por ser a mãe que sou e etc, etc, etc...

Foi numa conversa de café, que uma das colegas lhe falou deste espaço e ela pensou logo em nós. "Só pode ser, só pode ser..."
E assim descobriu-nos.

Eu é que te agradeço querida Sofia. Por não te contentares com um simples comentário e fazeres questão de falares comigo ao telefone.
Senti-me orgulhosa e até vaidosa, confesso. São pequenos gestos deste género, que nos alimenta o ego.
Adorei o teu gesto e agradeço-te muito por isso.
Sou uma simples criatura que ama ser mãe, muito mais não sei fazer, mas se por acaso precisares de mim (de nós) para qualquer coisa sabes onde me encontrar.

sexta-feira, março 18, 2005

Mandamentos do Pai

1 - Amar o filho acima de todas as coisas.
2 - Colocar o filho em primeiro lugar, em relação a tudo e todos.
3 - Ir às reuniões de pais e acompanhar o filho na escola.
4 - Brincar com o filho, quer ele peça quer não.
5 - Contar histórias, mandar os monstros embora do roupeiro e dar beijinho de boa noite.
6 - Não humilhar a mãe do filho.
7 - Dar festinhas na barriga do filho, quando esta lhe doer.
8 - Partilhar gargalhadas com o filho.
9 - Ter orgulho no filho.
10 - Sentir o verdadeiro valor da palavra Pai.

Todos sabemos que há pais e Pais.
A todos os Pais que cumprem estes mandamentos (inventados à pressa): o meu muito obrigado por existirem.
A todos os pais que não os cumprem: nem sabem o que estão a perder.

Sei que não devia escrever o que vou escrever, mas não me importo, não quero saber.
Não soube escolher um Pai como deve ser, para o meu filhote. Tenho pena, mas é verdade. Mas também, não faz mal de todo. Se ele soubesse o quanto somos Felizes, longe dele... como contagiamos alegria, como sabemos sorrir!!
Não vou falar muito no que passou; em primeiro lugar, porque não merece que perca tempo a falar sobre ele; em segundo, porque é triste demais.



Em contrapartida, há Pais maravilhosos, que mesmo sem o serem assumem-se como tal.
Também não vou falar muito nele nem sobre ele, não é que não mereça, muito pelo contrário, mas se calhar prefere que não fale (talvez me dê autorização... talvez).
Agradeço-lhe apenas, no quão a vida se tornou maravilhosa, desde que ele entrou no nosso mundo.

terça-feira, março 15, 2005

O Feitiço da Popota

Só quem já ouviu o cd da Popota, consegue perceber a magia de que vou falar (post abaixo).
Se calhar até estou a exagerar, mas não faz mal. Se soubessem o quanto nos divertimos e rimos ao ouvi-lo, iriam perceber facilmente do sentimento mágico que falo.
Ontem, assim que chegamos a casa, a primeira coisa que fizemos foi pôr o cd novo na aparelhagem e... não sei o que se passou, fomos invadidos por uma alegria, que só visto.
Combóios à volta da mesa da sala, gargalhadas felizes, saltos no sofá, cambalhotas no chão... Não sei, estavamos malucos, de todo.
Acho que conseguimos sentir todas as cores daquelas músicas.
Falo do cd da Páscoa do hipermercado Modelo "A Turma Modelo". Custa apenas 2,99€, traz um ovo de chocolate e uma magia imensa. Não estou a fazer publicidade à dita superfície comercial :) apenas quero que sintam a mesma alegria que nos invadiu, ontem. Vale mesmo a pena.

Um à parte:
Escusado será dizer que o cd rodou, rodou, rodou... enquanto fazia o jantar ía ouvindo e dançando... e dançando e pondo o sal no puré... e dançando e apertando o saleiro... e dançando e pondo o sal... Ok!!! :) Distraí-me de tal forma, que apertei o saleiro vezes sem conta ao som da música e claro está... salguei o puré:) :) :)

A história da Popota

Esta é uma história de alegria, música, brilho, gargalhadas e de cores mágicas... De cores mágicas, sim; que só se mostram, quando fechamos os olhos e as conseguimos ver e ouvir com o coração. É esta a magia desta história. Eu e o Piolhinho conseguimos vê-las, senti-las e ouvi-las; vamos ver quem consegue abrir o coração e sentir o mesmo que nós sentimos, ontem...



Popota sonha todas as noites que a Páscoa está a chegar, desejando assim "fabricar" um ovo de chocolate gigante, de tal forma, que todas as crianças do mundo o podessem provar.
Tranz, um dos amigos da turma, diz que conhece um planeta de chocolate e aí poderiam arranjar todo o chocolate necessário, para a confecção do ovo, mas teriam de consertar a nave espacial, para poderem voar até lá...

"São pregos e parafusos.
Alicates e martelos
Botões a roncar
A pedir que lhes venham arranjar.

São brocas e berbequins
A furar em frenezim
Soldas, soldaduras
A colar todas as ranhuras."

Trabalharam até à exaustão, até que a geringonça ficou pronta para descolar.

"A nave do Tranz
Já vai descolar
A turma Modelo
Está pronta para voar"

Já na estrada de estrelas, cruzaram-se com um objecto estranho que os obrigou a aterrar de emergência, no planeta mais próximo. Uma aterragem de emergência e desastrosa; talvez por causa da força da gravidade... ou do piloto.

"Quem já experimentou
Descer de montanha russa
E ficar de pernas para o ar
Sem sequer conseguir respirar
Assim vai a nossa nave
De nariz apontado para o chão
E se a sorte não nos agarra
Vai ser um grande trambolhão."

A nave "estatelou-se" no chão, ficando parcialmente destruída, mas ficaram todos bem, o pior mesmo, foi aquela nuvem de pó.
Uma pergunta pairava no ar: mas quem os teria obrigado a aterrar daquela maneira? Surgiu então a Deusa do Universo. Ela é a responsável por manter as galáxias livres da presença dos humanos, e foi por isso que obrigou os nossos amigos brinquedos a aterrarem, pois tinha-os confundido com eles. Pediu imensas desculpas e para remediar o seu erro, encarregou-se de os levar até ao planeta de chocolate, deixando-lhes a indicação de seguirem o caudal do rio em direcção ao sul, até encontrarem os vulcões de chocolate.

"Ai como é bom navegar águas tão doces
Neste navio de baunilha e caramelo
Este é o planeta mais feliz e mais guloso
Que não há outro tão saboroso e tão belo.

Vamos marujos, subam mais as nossas velas
Que são mastros gigantes de canela
Tragam os bolsos recheados de geleia
Para juntar aos nossos flocos de aveia."



Pouco a pouco, a temperatura ía-se tornando mais quente e um perfume adocicado ía-se espalhando pelo ar, fazendo crescer água na boca. Ninguém tinha dúvidas; estavam muito perto dos vulcões de chocolate...
Popota tinha encontrado o sítio do seu sonho... mas como é que se fabrica um ovo de chocolate gigante? Até que... Guga encontrou uma receita mágica

"Para uma dose redobrada
Ou até mesmo exagerada
É preciso um caldeirão
E um dente de leão.

Depois é só juntar
Duas folhas de alecrim,
Preparar um refogado
Para juntar tudo no fim."


E assim, construiram o maior e mais saboroso ovo de chocolate. Mas agora tinham mais um problema: Como é que o transportavam até à Terra? Quem sabe, transformá-lo num balão de ar quente...

"Cá de cima do Universo
Fica tudo mais azul
Tudo é mais harmonioso
Mais alegre e mais feliz.
Não há lupa nem microscópio
Que faça a Terra crescer.
Este balão de ar quente
É sítio bom para viver."

Chegaram mesmo a tempo; é dia de Páscoa...

"E há uma certa magia no ar
Que ilumina a Terra inteira
Uma amizade enorme
Sem fronteiras.

As núvens são de algodão doce
E a lua é uma bomba gigante
Olhem as estrelas
São pipocas de mel crocante.

O céu traz o arco íris
Com mais sete sabores diferentes
O dia de Páscoa tem surpresas
E muitos presentes."

Graças à coragem e à magia dos nossos heróis, milhões de crianças do mundo inteiro, deliciaram-se com a guloseima mais louca do Universo e assim, tiveram uma Páscoa mais doce e divertida.



Descobri esta história mágica, no Domingo, ao ver o anúncio da Turma do Modelo. Como já nos tínhamos encantado com a Leopoldina, fomos logo a correr comprar este cd maravilhoso, o qual recomendo vivamente. A nossa casa encheu-se de magia, palavra de mãe.

sexta-feira, março 11, 2005

Uma vez em Barcelona



Em Maio de 2003, numa das muitas consultas de Neonatologia no Hospital de Santa Maria, recebi a feliz notícia, de uma possível consulta numa clinica particular em Barcelona, onde um oftalmologista, já tinha feito o milagre de dar uma luzinha aos olhos de um prematuro português.
Apesar do quadro clinico do bebé ser bastante semelhante ao do meu, havia a diferença da criança ter meses e o meu filho já ter 3 anos, mas não pensei muito nisso.
Fiquei com o pensamento a mil, com o coração acelarado, com uma esperança do tamanho do mundo... Havia a possibilidade do meu piolho ver.
No início de Junho, lá íamos nós a caminho de Barcelona, a caminho daquele sonho de lhe mostrar tudo e mais alguma coisa.
Saímos sexta-feira de manhã, pois a consulta era nessa tarde.
Apanhámos um taxi que nos levou até ao hotel. Foi uma viagem um bocadinho longa, mas bastante agradável. Lembro-me de passar por um cemitério lindo, em forma de muralha e pensar: - talvez ainda o vejas...
Tinhamos uma pessoa (que se tornou um amigo, exemplar) à nossa espera no hotel e, foi ele que depois de almoço, nos levou à clinica.
Foram das horas mais longas da minha vida, aquelas que esperei naquela sala de espera. Com os olhos já dilatados, mandaram-nos entrar para uma sala com uma cadeira enorme e instrumentos estranhos. Cumprimentei o médico e entreguei-lhe o relatório clinico que trazia comigo e ele, pediu-me para me sentar naquela cadeira enorme com o Piolhinho no colo. Senti um aperto tão grande no estômago, que ainda hoje não o esqueci. Estava bastante nervosa, confesso,
Sentei-me e o médico também. Começou então, a ler as folhinhas que lhe tinha entregue.
Ao vê-lo de rosto tão sério, gelei... Ao vê-lo acenar a cabeça em silêncio... chorei...
Disse-me com uma voz tremida, quase que comovida, que já se tinha feito tudo o que se poderia fazer e, que até a última operação já tinha sido feita, na base do desespero, para se tentar "aproveitar" qualquer coisa, mas que mesmo assim o ía abservar. Observou-o, mas o resultado já era mais que esperado. Não havia nada a fazer, talvez se o tivesse levado mais cedo, podesse fazer alguma coisa, mas assim, não valia a pena. Meia a soluçar, falei-lhe naquele menino português...; mas ele interrompeu-me... para me poupar, creio, e disse que o problema, apesar de ser idêntico, lhe tinha ido parar às mãos muito mais cedo e o do meu já "tinha 3 años..."
Lembro-me de olhar para o tecto, não sei se inconscientemente a perguntar a Deus, o porquê de me ter dado tanta esperança, se a tentar distrair-me para parar de chorar. Lembro-me também, do próprio médico ficar de olhos tristes e de me apertar o ombro, como se me dissesse: - Coragem mãe, não desistas... Sei que se sensibilizou, pois também não quis aceitar o dinheiro da consulta, que era cerca de 30 contos...
Saí de lá, completamente de rastos. Não queria transmitir para o meu filho aquele estado de alma amargurado, mas não me conseguia controlar e cada vez que olhava para ele, o sentimento de tristeza percorria todos os cantinhos do meu coração. Pensava "se eu tivesse conhecimento desta clinica há mais tempo..."
Voltamos ao hotel. O senhor amigo que nos esperou, esteve sempre connosco e foi graças a ele que aquela viagem até teve o seu lado bom. "Mostrou-nos" o que conseguiu, daquela cidade maravilhosa, em apenas dois dias e acreditem que não foi nada pouco. Mas à noite... quando o senhor amigo me deixava parar, era inevitável que o olhar do médico e aquele aceno de cabeça não me viessem à memória.
Chorei, chorei, chorei até lavar a alma e de mãos completamente vazias e de coração despedaçado, lá fui buscar mais um bocadinho de força (não sei onde, mas acho que devo ter um reservatório qualquer) e voltamos a Lisboa, a sorrir.



Ele adorou andar de avião e eu, de lá, trouxe uma certeza:
Apareça lá a esperança que aparecer, surjam os médicos que surgirem, nunca mais vou criar a ilusão de lhe dar a luz que tanto quero. Não vou perder a esperança, mas não quero voltar a dar um trambolhão daqueles, que ainda hoje me dói... e há-de sempre doer, pois as cicatrizes são bastante profundas e sei que nunca mais vão desaparecer...

Descobertas fenomenais

Foi por volta dos dois anos de idade que surgiu a primeira comparação "disparatada". Disparatada, sei que não é o termo indicado, acho que é mais uma comparação inteligente, mas não deixa de ser engraçada, o que a torna disparatada... Ok... é melhor passar à frente :)
Quando teve o primeiro contacto com plasticina, o primeiro impulso que teve foi levá-la à boca, pois pensava que fosse uma goma... Nunca tinha pensado em tal semelhança, mas fui obrigada a concordar com aquela cabecinha pensadora.



Engraçado, também, foi quando o mais que amigo dele, lhe ofereceu uma noz descascada, ao qual ele respondeu:
- Não quero pipoca...

Ontem, ao fazer a habitual ronda aos armários da cozinha, agarrou num pacote de natas e disse:
- Oohh...!!! Não tem palhinha...
- Qual palhinha, filho?
- A palhinha do sumo...

São gracinhas deste género, que apesar de tudo, me fazem sorrir e transformar as mais insignificantes coisas da vida, em objectos mágicos, absorvendo momentos tão especiais...

quarta-feira, março 09, 2005

A longa espera do amigo



Provavelmente, este será um dos novos habitantes da nossa casa... Provavelmente, um dia, quem sabe...
Só ontem, fiz uma pesquisa, mais ou menos aprofundada e, descobri (com algum espanto) que existe apenas uma escola em Portugal que treina cães-guia. Como se não bastasse ser apenas uma única escola, existem apenas dois treinadores.
Esta escola fica em Mortágua (Coimbra) e funciona desde 1999.
Cada treinador, consegue treinar, quatro cães por ano, treinando-se no total, apenas oito cães. Descobri, também que existe uma lista de setenta (!) invisuais, que esperam pelos novos e tão desejados companheiros; portanto, segundo as minhas contas, só daqui a nove anos (!) é que o meu filho terá um cão-guia
Absurdo?? Completamente, tendo em conta que no Brasil, se treinam cerca de quinze mil cães por ano.
Não critico a escola, muito, muito pelo contrário. É de louvar, o esforço e empenho realizados, por todos, principalmente pelos treinadores; critico a falta de apoio (em todos os sentidos) por parte das entidades competentes para esse fim, a quem o dever de ajudar, passa completamente ao lado e despercebido, oferecendo uma esmolinha, de vez em quando (se calhar, todos vêem, na família daquela gente, por isso não se importam e se calhar até dizem: "Coitadinho do ceguinho", quando vêem algum na rua, de bengala na mão).
Os cachorros são oferecidos à escola (por particulares ou por criadores), estes passam os primeiros doze meses de vida com o futuro dono, depois regressam à escola, onde são treinados durante dois anos, nunca perdendo o contacto com o invisual a quem vai ser destinado. São gastos cerca de quinze mil euros por cada cão, que depois é, simplesmente, oferecido ao dono, além disso, todo o tipo de despesa realizada com o belo amigo fica a encargo da escola (idas ao veterinário, medicamentos, etc.).
Um gesto estranho no nosso país, não? Oferecer um cão que só falta mesmo falar e no qual se investe tanto dinheiro... É por isso, que admiro tanto aquela pequena escola.
Ontem, enviei um e-mail para lá, a perguntar o que fazer para juntar o Piolhito àquela lista imensa, oferecendo também toda a ajuda que estiver ao meu alcance. Acho que não posso fazer muito, mas talvez ao falar nela, apareça alguém a dizer:
- Gostava tanto de ser treinador de cães guia...
Sei que não basta gostar, há que tomar esse caminho como profissão, mas fica aqui o apelo.

terça-feira, março 08, 2005

A (in)magia das cores II

- São horas de ir para a cama!!!
- Não!! Só mais uma vez no cavalinho...
- Já te disse!!! São horas de ir para a cama!!
- Então a mamã ensina as cores...
- Está bem. A mamã ensina as cores...

Acho que nunca o vi tão entusiasmado, por ir para a cama.
Começa por perguntar de que côr é o bacalhau com natas...
- É assim... meio branco, meio amarelo...
E a banana? E a maçã? E o kiwi? E um número indeterminado de alimentos, os preferidos em primeiro lugar, é claro. Depois, com uma expressão séria e pensativa, de lábios serrados e ternurentos, ouço:
- Hhuuuuummm... e o céu é de que côr?
Isto, são sem dúvida, perguntas banais, que quase ninguém pára para pensar nelas, porque são óbvias, mas, como é que posso explicar a quem nunca viu, o que é o azul? Mas, em primeiro lugar, o que é o céu? Qual o seu tamanho e distância?
Respondo-lhe que a banana é amarela, mas como é que se define amarelo?
Acho que só agora, vou começar a sentir o peso da escuridão colorida daquele olhar doce, presente e distante...

segunda-feira, março 07, 2005

A (in)magia das cores


Esta foi a imagem que escolhemos para o teu bolo. Era um bolo tão lindo, recortado em forma de nuvem com este ursinho de ar sonhador... que até deu pena, ao parti-lo.
Sempre gostei do Winnie, talvez por isso te obrigue a gostar dele também. Pouco te importa, se é amarelo ou azul, verde ou vermelho. Nem sabes muito bem o que é o ursinho Winnie, mas como a mamã gosta dele, decidiu fazer a festa do Winnie e do Pooh (que estava linda, modéstia à parte e, que já foi há 4 meses atrás).


Estavas tão feliz, no dia dos teus 5 aninhos, soltavas gargalhadas tão boas, que o pêlo amarelo do ursinho ofuscava-se no meio da tua alegria.
Gostava de repartir contigo todas as cores, gostava que fosses tu a escolher o tema da tua festa... mas fiquei tão arrepiada quando, ao dar-te o já habitual beijo de boa noite me pediste para te ensinar as cores...
- O que é que eu faço, meu Deus? foi o que pensei naqueles segundos seguintes; mas deitei-me na almofada dele e fechei os olhos.
Disse-lhe que o leitinho era branco, tal como o frigorífico que o guardava, a relva era verde e o Sporting também, o céu azul, o Benfica vermelho... tantas palavras ditas sem sabor, vazias, foi o que senti.
Ele ainda não sabe que é diferente de todos os outros meninos, não se apercebe que a realidade não é um mundo escuro, mas gostava de ter palavras suficientemente belas e elaboradas para definir o branco, o céu, um leão, a vertigem, a velocidade, o ursinho Winnie...
Gostava de ser a mãe sabichona e estar à altura de todas as perguntas que hão-de ser feitas... Até lá, vou amando como sei e contar-lhe histórias coloridas, para o afastar daquela escuridão.

sexta-feira, março 04, 2005

Wenders, for you





quinta-feira, março 03, 2005

Toranja Destoranjada


Juro, que ontem à noite tentei ouvi-lo e percebê-lo, mas é praticamente impossível de transcrever tal dialecto.
É impressionante como ele consegue cantar a música toda, toda, toda; mas inventa palavras tão estranhas.
Farto-me de rir ao ouvi-lo cantar, porque é mesmo engraçado, portanto, vou tentar escrever, um bocadinho, da letra à moda do meu piolho:

Eu falei contigo
Com vozes e vazes
Que me achas
Caíssem a teus pés
Acredito e entendo
Que a estanidade nógica
De que não queres pudim
Faça bem ao escupiés

Saudade
É o ar que vou sugando e aceitando
Como fruto de brão
Jardim do teu beijo...

É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mágoa feiticeira
(O resto do refrão, canta bem)

A parte dos gira dicos estragados e das raízes quadradas é uma coisa... mas calha sempre bem e, acompanhado da música até disfarça mais ou menos, mas não consigo escrever. É só rir.

Se não te deste a ninguém,
magoaste algúem
A mim passomálá

O tiro passemeólá
O tiro passemeólá...


Aquele miúdo é demais

quarta-feira, março 02, 2005

Realidade Invisual



São 6 da manhã e ouve-se um despertador, num apartamento algures em Alenquer.
O sol ainda não nasceu e na altura em que o soninho mais apetece e os ursinhos, daquela barra azul que abraça todo o quarto, também dormem aconchegados e ternurentos, lá vem a mamã, também meia a dormir, dar beijinhos e sussurrar ao ouvido:
- Filhote!!! São horas de acordar, meu querido...
Primeiro espreguiça-se, depois resmunga, depois vira-se para o outro lado; até que acaba por ceder e aceita o colinho da mamã.
Depois de vir da casa de banho, pede para fazer mais um bocadinho de ó-ó, na caminha da mãe, ao qual ela explica que não pode ser, que ele tem de ir para a escolinha e que além disso o fim-de-semana está à porta (mesmo sendo segunda-feira). Há dias em que aceita bem, outros nem por isso, mas é uma rotina obrigatória, que tem de ser cumprida, custe lá o que custar.
Depois de vestido, a mamã vai buscar o pequeno-almoço; sopinhas de leite ou papinha Nestum, a ementa é pouca variada.
Depois de tudo comido, calçam-se as botas, escovam-se os dentes, veste-se o casaco (o último, pois àquela hora, todos os casacos são poucos) gorro e cachecol e lá vai ele até à capital.
De carro até Olivais, de transporte escolar até ao Restelo, portanto, sai de casa às 6:40 a.m. e chega à escola às 8:45 a.m.. Duas horas até chegar à escola. Se para um adulto é desgastante, para uma criança é quase inconcebível; agora imaginemos: fazer este percurso de olhos fechados (!) Assustador não é?
Sei que tenho um filho maravilhoso, com uma força interior inimaginável, mas acho que não dou o devido valor ao esforço que ele faz, é uma rotina tão banal, que nem penso muito nos cento e tal quilómetros que ele faz diariamente.

O Centro Helen Keller é das poucas escolas em Portugal que lida com crianças invisuais e, "dizem" que é a melhor, talvez por isso o sujeite a tal sacrifício e pense unica e exclusivamente no futuro dele.
Quando chegar a altura do primeiro ano, há-de aprender braille, aprender a usar a bengala, ficar desdentado :) e uma série de novas etapas que, obviamente surgirão, mas que agora não penso muito nelas, talvez para me ir habituando à ideia, devagarinho.
Só espero que todo este esforço seja bem aplicado e que ele vá desculpando esta mãe orgulhosa (e muito), por o tirar daquela caminha tão boa e tão quentinha, àquela hora da madrugada.

Adoro-te, herói pequenino!!

terça-feira, março 01, 2005

Daqui a 7 meses



É um sonho sem dúvida, um sonho que pensei perdido mas tu encontraste-o.
Ainda não vou falar muito no nosso dia, mas vou começar hoje a contagem decrescente e pensar que de hoje a 7 mesinhos, hei-de ser a noiva mais feliz do mundo.