terça-feira, maio 31, 2005

A família está a aumentar...

Pois é :)
leram bem, sim! A nossa família está mesmo a aumentar :)
Há muito que era desejado e, esse dia por fim chegou.
Se os mais crescidos ficaram felizes e contentes, o Piolhinho ficou radiante.
No Sábado, foi a primeira coisa que lhe disse, assim que acordou. Ficou tão feliz, tão feliz, que me abraçou com quanta força tinha e disse:

- Estou tão contente!!!!

O número quatro lá de casa é amarelinho, tem olhos verdes, tem quatro patas e chama-se Tareco!!!
Pois é!! É um gatinho lindo, lindo, lindo, de dois mesinhos :)
Enganei-vos não foi? Hehehehehehe!!!!!

Qualquer dia é mesmo a sério (só espero que esse qualquer dia seja para breve, para muito breve) mas até lá, vamos sorrindo e brincando com este novo habitante, que faz as delícias de todos, principalmente do filho mais velho... tendo em conta que o Tareco é o filho mais novo! : )

quinta-feira, maio 19, 2005

O mesmo coração

Hoje de manhã, encontrei aquele meu colega do post "In America... In I.P.O."
Embora trabalhemos na mesma entidade, os nossos gabinetes são em sítios diferentes e raramente nos cruzamos, mas hoje falamos, sorrimos e... choramos.
Há tempos,escrevi o que não tive coragem para lhe dizer nos olhos, preferi escrever, porque se há olhares que me magoam, são os olhares de quem sofre pelos filhos e como sei tão bem como custa falar dessa dor sem chorar, preferi não olhar para ele e dar-lhe a ler o que me ía no coração.
Quando o encontrei, perguntei-lhe a meia voz se o filho estava melhor, ao qual ele respondeu:

- É assim Catarina. Eu não posso dizer que ele está melhor, porque nunca o senti doente...

Estas palavras foram ditas acompanhadas por um sorriso cheio de fé e esperança. Estas foram as palavras de um Pai que ama o filho acima de todas aquelas coisas feias, tristes e más. Estas palavras encheram-me o coração e iluminaram-me o olhar.
Não lhe fiz mais perguntas, porque não queria ouvir as respostas. Gostei tanto de ouvir o que ouvi que limitei-me a ficar por ali, não quis ouvir o resto (também não sei se haveria mais alguma coisa para ouvir), gostei de o ver assim e assim ficamos.
Ele, da dor dele soube tranformá-la em esperança, tal como eu da minha dor, a consegui tranformar em alegria e num grande objectivo: não de lhe dar as cores, porque clinicamente é quase impossível, mas de as transformar em notas musicais e torná-lo num grande músico, ou algo assim parecido.
Aos poucos, vou-me apercebendo que o coração daquele pai tem um amor muito parecido ao meu. Hoje, ao ficarmos sozinhos na mesma sala, agradeceu-me e disse-me que era uma muito sensível e especial. Demos a mão, apertamo-las e sorrimos de lágrimas nos olhos. Sem mais palavras, beijou-me a mão e com o mesmo olhar, seguimos o nosso caminho, cada um para seu lado.
Cairam-nos algumas lágrimas, mas já não estavamos juntos. Se calhar não quisemos demonstrar a emoção e revolta que existe no coração de alguém que se sente impotente perante a injustiça que o mundo reservou para os seus filhos. Emoção e revolta, que nos é comum.
Saímos emocionados, mas mais fortalecidos... creio...

segunda-feira, maio 09, 2005

Os Olhos dos Outros

Foi numa destas noites de febre que, sem querer, olhei para o Piolhinho, de uma forma diferente. Por breves instantes, acho que o olhei com os olhos dos outros e não com estes olhos de mãe, a quem tudo parece normal... mas obviamente que não é.
Enquanto dormia olhava-o e recordava-o com um aninho. Lembrei-me dele assim, pois dormia um sono tranquilo e com uma das mãozinhas na bochecha, tal como, quando era bebé. Apesar daquele comprimento todo (1 metro e vinte e qualquer coisa), do cabelo "à rapazinho", cara de reguila e malandro, asneirento, teimoso e mau feitio, com uma personalidade "do caraças", recuei três ou quatro anos e vi o meu menino com cara de anjo e caracóis grandes. Vi-o puro, inocente e pensei:

- Passou este tempo todo e ele nunca viu. Mesmo sendo bebé era cego... Tão indefeso, tão bonito, tão tudo e... sem ver.

Naquela hora, senti que não tinha vivido nada daqueles anos. Que aquele bebé cego não tinha sido o meu bebé, que nada de mau lhe tinha acontecido, porque era bonito demais, era pequeno demais, era perfeito demais para não ver e, senti pena. Senti-me mesmo triste por aquele anjinho ser "assim".
Eu sei que ainda é muito pequeno, mas é diferente, é mais crescido. Talvez seja isso ou talvez fosse sempre assim. Sempre o vi como uma criança normal. Talvez daqui o cinco anos pense nisto outra vez e talvez sinta a mesma pena que sinto quando penso que há cinco anos atrás ele era cego, mas o que é certo, é que o vejo de uma forma tão feliz, que vou deixando o tempo correr à velocidade certa e não penso muito na cegueira dele, agora.
Só olhando para trás me apercebo e vejo tudo. Tento ser feliz no presente, desfrutando cada sorriso e cada novo passo, mesmo quando a angústia da escuridão dele me aperta. Consigo ignorar aquela pontinha de dor, que por vezes bate à porta do meu coração e mandá-la embora. Só que às vezes a razão fala muito alto, chega mesmo a gritar e mostra-me o mundo de uma outra forma. Não acredito que seja a forma mais feliz, nem sei tão pouco se será a mais correcta, mas sei que é a mais verdadeira.
E, naquela noite, vi-o com os olhos daqueles que não o conhecem e o olham com pena, diferença e curiosidade.
Uns olhos que detestava (e ainda detesto, não é por os compreender que os vou admirar) por serem tão mesquinhos, que se fixam nos olhos do meu menino e não os largam. Detesto que olhem assim para ele, detesto que digam "aquele menino é ceguinho", dói-me muito, muito, muito e eles não percebem... mas naquela noite eu percebi esses olhos. Não o olham por mal, falam sem pensar que me custa ouvir; mas será que eu não fazia o mesmo?
Se eu senti pena por ele ser um bebé cego, tenho o dever de perceber as reacções dos "outros", mesmo sentido o coração apertadinho e uma vontade imensa de fugir daquele lugar.