terça-feira, abril 26, 2005

Profissão: Músico

Há uns meses, descobrimos "umas coisinhas" nas nozes dos dedos do Piolhinho.
O avô dizia que, provavelmente, se tinha picado numa roseira e os espinhos tinham ficado lá... Mas ó avô!! Em quase todas as nozes dos dedos? Não me parecia...

Entretanto, fomos ao pediatra e falei-lhe naquelas "coisinhas". Ele olhou e sem demora perguntou se ele tinha o hábito de bater, assim como quem bate à porta.
Pois... pensando bem, é o prato do dia, uma vez que aqueles dedinhos são do tipo baquetas, pois mal apanham qualquer tipo de superfície, começam logo a batucar e, se houver música... só visto!!
Sempre com um ritmo perfeito, diria mesmo mais que perfeito. Tudo depende da música; acompanha-a na perfeição. Umas vezes duas, três vezes com a mesma mão, alternando com a outra, as vezes que achar necessário.

Portanto: aquelas "coisinhas" nas nozes dos dedos, são simplesmente: calos!!! Sim, sim!!! CALOS de usar as nozes dos dedos, como o instrumento preferido.
Parece mentira, mas é verdade!! :)

Tal como verdade é o número indefinido de músicas que ele sabe de cor. E se não sabe inventa, mas sempre dentro da música. A letra pode variar, mas a terminação das palavras é a mesma e encaixa-se perfeitamente no ritmo.
Não tem medo das palavras quando as canta, solta-as de uma forma natural. Mas o que mais me impressiona é o facto de não ser só em português. Canta em inglês (à maneira dele, claro, mas com um sotaque perfeitinho) 1000 vezes (ou mais) melhor que a mãe : ), algumas em espanhol e outras em francês (Joe Dassin).
Canta tudo, tudo, tudo. Basta-lhe ouvir duas ou três vezes, que começa logo a imitar. O mesmo se passa com os anúncios. O último foi o do:
- É já a seguir!!! É que é já... a seguir.
E a música do Herman Sic "és tão boa, és tão boa, és tão boa, és tão boa" também já se começa a ouvir lá em casa : )

Para falar é um castigo, mas para cantar e palrar é do melhor.
E de uma coisa não tenho dúvidas:
Ali, há um grande futuro!! Um dom daqueles misturado com a memória impressionante que tem, só pode mesmo dar num futuro maravilhoso.
Temos de saber aproveitá-lo muito bem, para colher os frutos certos na altura certa. Até lá, vamos aturando o mau feitio do Piolho (que é mesmo muito grande) e aquela personalidade fortíssima, que não verga nem um bocadinho assim e rindo, sorrindo e sobretudo sentindo com tudo de bom que ele tão bem sabe oferecer.

terça-feira, abril 19, 2005

A magia do tempo

Ontem, enquanto varria o chão da cozinha, ia divagando por todos os cantos que a memória e imaginação me levavam.
Pensava no que era e no que me tornei; pensava no que seria o jantar de amanhã; pensava na peça do meu amado noivo e, de repente, parei de varrer quando pensei que o meu maninho este ano, já faz 17 anos. O meu irmão vai fazer 17 anos!! Pensei. Como o tempo voa. Aquele menino de cabelos louros e cara de anjo, que outrora brincara com a mana aos cavalinhos (a mana era sempre o cavalinho que o carregava nas costas) está-se a tornar num homem e aquela carinha angelical está a perder a inocência e a transformar-se num rosto de um jovem bastante bonito, de olhos castanhos e grandes, pelo qual, certamente, muitos corações femininos irão bater acelerados e descompassados.
O meu russinho vai fazer 17 anos, idade com que a mana deixou o ar angelical e o transformou num ar pesado; quase tão pesado como a barriga que transportava.
E se ele agora fosse pai? Pensei. Não; o meu irmão não está preparado, de modo algum, para ser pai. Claro que não!! É certo que já tem um corpo de homem (bem bonito, por sinal), barba e etc. mas ser pai?
E eu? Estaria preparada para ser mãe aos 17 anos? Ou melhor, estaria preparada para passar o que passei? Obviamente que não.
Haviam sonhos para cumprir, sonhos que com aquela barriga não faziam sentido, sonhos desfeitos, no fundo.
Revoltei-me com a vida, baixei o olhar, fiz do meu quarto o meu porto de abrigo, virei costas ao sorriso, limitava-me a sobreviver de olhar húmido e triste.

O tempo tudo leva e levou para longe aquele olhar triste e o olhar de menina sonhadora voltou aos olhos castanhos, aos olhos que nunca deveriam ter perdido o brilho, mas perderam…
O tempo pediu ao vento para enxugar as lágrimas daquele olhar e substituí-las por sorrisos, o tempo levou o medo, a dor, a vergonha da barriga e… a própria barriga… cedo demais.

Mas foi também o mesmo tempo que trouxe este amor maravilhoso que me enche o peito e o coração. Foi o tempo que me mostrou que consegue apagar a dor e tem o dom de aumentar e manter o amor.
Hoje, sei que o tempo é mágico: transforma meninas em mulheres. Umas na altura certa, outras mais à pressa. Eu fui uma dessas “mulheres instantâneas” que passou por uma quantidade de situações e emoções que ninguém merece, mas o tempo foi meu amigo e ensinou-me a esperar e a pensar que tudo passa.
Com o tempo como professor, passei estes últimos cinco anos. Cinco anos mágicos, o que não quer dizer que tivessem sido perfeitos, mas aprendi muito com eles. Anos difíceis, principalmente os primeiros, anos complicados para uma mãe tão nova, anos que se vão transformando em histórias de vida e que são lidas por quem navega na Internet. Histórias que aprendi a gostar, histórias que me ensinam a dar valor àquela mãe: a mim.
É graças a este espaço, quando escrevo o que escrevo, que realmente me apercebo do que era e no que me tornei e lá no fundo das palavras, reflecte-se uma imagem bonita, um reflexo que me dá um certo orgulho.
Não pensava assim, pensava que tinha agido (e ajo) como qualquer mãe. Mas há tantas mães crescidas que têm filhos “perfeitinhos” de mais ou menos três quilos e lhes viram as costas e eu agarrei o meu piolho de meio quilo, com todo o coração e dei-lhe a mão nos momentos que ele me procurava.
Consigo ver que realmente fui corajosa, porque imagino o meu irmão agora a passar por tudo aquilo… Talvez ele conseguisse suportar o peso do mundo e talvez o conseguisse erguer. Eu também o consegui, quando ninguém assim o pensava, porque era menina demais.
Vou agarrar este pequeno orgulho, que este blog e comentários me oferecem, pois sei que se tivesse que passar por tudo o que passei, não iria ser da mesma forma. Fui aprendendo a amar o meu filho, talvez por isso reagisse da forma que reagi: de uma forma muito corajosa, estava presente em tudo, até numa simples aspiração à traqueia. Hoje sei, que não seria capaz de ver o que vi. Este amor é muito superior àquilo que os olhos suportam, por isso tenho que guardar as imagens “sangrentas”, pois nunca mais verei o que vi.
Se hoje tivesse um filho, em que os primeiros meses de vida fosses passados entre a vida e a morte, seria uma mãe com um coração cicatrizado, uma mãe que iria sofrer muito mais, pois iria amá-lo com amor de mãe desde o primeiro momento e com este piolho não foi assim. O tempo ensinou-me a amá-lo de uma forma indiscritível e é isso que nos torna tão inseparáveis.Obrigada meu querido filho, por me teres ensinado a amar desta maneira. Toda a gente agradece e aqueles que hão-de chegar um dia, também.

quinta-feira, abril 14, 2005

Os olhos do coração

" - O que é isso? A que é que sabe? Descreve como se fosses o Hemingway.
- Bem, sabe como uma pêra. Não sabes qual é o sabor de uma pêra?
- Não sei como é que uma pêra sabe para ti.
- Doce, sumarenta, macia na língua, granulada como areia açúcarada que se dissolve na boca. E que tal?
- É perfeito."

"City of Angels"


Aqueles que têm a sorte de conseguir apreciar o sabor de uma pêra, não dão importância àquilo que sentem, limitam-se a gostar, limitam-se a absorver o senso comum, não sentindo o verdadeiro sabor. Ou se gosta, ou não se gosta, ponto final.
O mesmo se passa com aqueles que vêem. Vêem, simplesmente, mas não sentem o que vêem, porque têm a sorte de ver e por tal, não dão valor ao mundo que os rodeia.
Não sentem o som do vento por entre as folhas das árvores, olham para elas como olham para todas as outras, porque afinal, são todas verdes, não é?
Não se apercebem do verdadeiro barulho que há nos auto-estradas... porque vêem os carros, não os ouvem.
Um gato: ou é bonito ou menos bonito, nos olhos daqueles que vêem. Mas não é assim. Cada gato é um gato e todos os gatos são diferentes. É tão bom sentir a cor do gato (não é Sofia?).
De olhos fechados sente-se o que de olhos abertos não se sente.
E sei que quase todos me percebem, quando apagam a luz e deixam os corpos à deriva do sentimento... e tudo se transforma... às escuras!!

quarta-feira, abril 13, 2005

Uma estratégia inteligente

Há idéias e idéias, pensamentos e pensamentos, palavras e palavras e... estratégias e estratégias! : )
Há cerca de duas ou três semanas, o meu Piolhinho "descassificou-me". Deixei de ser mamã e passei a ser, simplesmente, Catarina.
Confesso que achei piada, muita mesmo, pois é dito de uma forma engraçada e muito carinhosa, mas não deixei de achar estranho:
Ó Catarina isto... Ó Catarina aquilo...
Até que... esta mãe leu o pensamento daquela coisinha linda.
Lá em casa, não se ouve a palavra pai. Há uma mãe e um Frederico, por tal, eis o pensamento que ele me transmitiu:

"Eu adoro a minha mãe e adoro o Frederico. É certo que a mamã é muito importante para mim, mas o Frederico não se torna menos importante, pois é ele o homem que ama com A maiúsculo a mamã e se eu faço parte dela, também me ama e sou importante para ele, tal como ele é importante para mim. No fundo, ele é mais ou menos um pai. Faz tudo como um pai: vai à escolinha, faz-me cócegas e cambalhotas, conta histórias, vai comigo ao senhor doutor, vamos ao parque, faz e dá-me o jantar quando a mamã vai para a escola, ensina-me inglês e até ralha quando é necessário (isto é mesmo de pai!).
Portanto, se ambos têm o mesmo significado para mim, porquê que têm "categorias" diferentes? E se lhe chamasse Pai? Será que se ía importar? Pois... não sei... Mas... a mamã com certeza que não!! É isso mesmo! Catarina e Frederico, para ninguém se chatear."

Até pode ser que o pensamento dele se tenha misturado com o ar e o resultado que me foi transmitido ficasse alterado... não sei, mas faz sentido e é nisso que quero acreditar: que ele o sente como pai.

terça-feira, abril 12, 2005

oque os olhos não veem

segunda-feira, abril 11, 2005

Histórias de Vida

«Sou pai de uma criança diferente.
Todas as crianças são diferentes. Não há duas iguais, mas algumas são mais diferentes. Não deixam de ser excepcionais, especiais. É o caso da minha filha Margarida. Soube há poucos dias que tem uma forma de autismo, o Síndroma de Asperger. Nunca tinha sequer ouvido falar disto. Não sei ainda bem do que se trata. Sei apenas, neste momento, no meio da confusão, da angústia, do medo, que ela vai ser uma criança diferente. Durante a gravidez sempre tive um pressentimento de que seria uma criança especial... Só não sabia ainda quanto isso era verdade. A Margarida é um bebé lindo e a minha expectativa quando penso nela é que será tão amada, tão cuidada, tão protegida, que se há-de tornar numa das crianças mais felizes e capazes na história da humanidade.
Agora que a tenho não a trocava por uma vida mais fácil nem por nada deste mundo. Há com certeza uma razão muito boa para ela ter acontecido na nossa família. Porque Deus sabia que ela seria o nosso sol. Fosse como fosse. Mesmo não indo ser a criança e o adulto perfeito que a nossa sociedade espera. Se havia uma hipótese tão remota, de acordo com as estatísticas, de ela nascer assim, não foi por erro e aconteceu por um propósito nobre. As crianças com necessidades especiais têm de nascer nalguma família: a minha foi a escolhida. Já imagino a minha filha a ganhar uma medalha de ouro nas Olimpíadas para Deficientes. Há no meu coração tanta esperança e promessa daquilo que a sua vida vai conter... É claro que sei que vai ser um desafio incrível, muitos sacrifícios, lágrimas, desgostos, impossibilidades e a vida como sempre a conhecemos nunca mais será a mesma. As dificuldades vão acontecer e há-de haver momentos de desânimo em que teremos o secreto desejo de que ela não fosse diferente. Mas agora é o momento de esquecer o que eram outros sonhos e agarrar com o coração o que a vida nos trouxe: a nossa Margarida. Por ela serei o melhor pai do mundo. Apetecia-me enviar uma carta a todos os pais que têm crianças especiais, para lhes dizer que as amem muito, acreditem nas capacidades delas e as vejam como um presente especial , que eles foram escolhidos para receber.»

página 64, do livro "Ser Pai, Hoje" de Leonor Falé Balancho


Se me permitem:
Faço das palavras deste pai, as minhas.

Enfim, normalidade

Hoje, tudo regressou à normalidade.
O despertador às 6 (quer dizer... hoje não tocou, pois ninguém lhe deu ordens para tocar, mas inacreditavelmente, a mãe acordou às 6 e 10, mesmo estando uma semana inteirinha a acordar algumas horinhas depois da hora habitual... isto é que é, hein!!! :); a ida para a escolinha (muito desejada, por sinal); a mamã voltou a trabalhar; por volta das 17 horas lá vai a mãe para Lisboa buscar o Piolhito; regresso a casa; algumas compras, se necessário; fazer o jantar; a chegada do nosso mais que tudo; a banhoca do Pestinha; o vestir do pijama (que normalmente dura uma eternidade deliciosa ao som da Popota); jantar; brincar e ouvir música; quando tudo corre bem, ou seja: quando está roto de todo, adormece cedo e por fim... sossego merecido :)

Já passou, aquela febre horrorosa que o punha a dormir a todas as horas, já não tem olheiras, já não diz que dói a testa e por isso não pede para pôr paninhos fresquinhos e aquelas amigdalas lindas já não têm pus e já regressaram ao tamanho habitual (pareciam duas batatas).
Já começam a ser habituais estas amigdalites, por isso já não fico, mais ou menos, em "pânico interior", mas é sempre doloroso ver aquele bichinho carpinteiro deitado, sem estar a dormir.
Mas nada como antibiótico e mimos, para curar qualquer tipo de amigdalite.
Estamos de volta à nossa vidinha maravilhosa... e ainda bem, pois já não dava para aguentar tantos dias em casa, com um sol maravilhoso na rua e o parque à nossa porta.

segunda-feira, abril 04, 2005

Obrigada e... 38 e tal

Agradecendo todo este carinho muito mais que especial, que tenho recebido de todos e mais alguns e, na impossibilidade de agradecer a todos "pessoalmente" digo:

MUITO OBRIGADA, PELOS COMENTÁRIOS E E-MAILS QUE TENHO RECEBIDO!!!!!

Nunca pensei gostar tanto de pessoas "desconhecidas". É simplesmente maravilhoso, o palpitar dos corações que tenho ouvido. Nem sei o que dizer...

... Obrigada amigos...


Outra coisa, que não tem nada a ver; ligou-me agora, a enfermeira, da escolinha do Piolhinho... a dizer que está cheio de febre... : (
É aquela garganta marota outra vez, quase que aposto. Portanto, é bastante provável que "fiquemos de cama" durante uns dias. É só para justificar a ausência de notícias, dos próximos dias.
Beijos enormíssimos, para todos que passarem por aqui e muito bem hajam!!!!


P.S. - É a primeira vez que faço isto. Que escrevo de mim, para vocês... Nem sei porque o fiz, mas creio que me senti "com o dever de..." É estranho, mas é bom!

Beijinhos